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Mostrando postagens de dezembro, 2019

É Natural mas fede

Tudo é muito natural. É como o mar noturno, as ondas vão, as ondas vêm. É como a cotidiana hipocrisia, eu nem sei mais como se diz bom-dia. É como o beija-flor querendo o sumo da flor que entrega sem saber que dá. É a gaivota planando, é natural, o peixe que ela viu já foi-se embora, desesperança alada, de perfil. De frente é o olhar, que logo se desvia da legião deserdada, é natural. É a cascata descendo, é o girassol humilde na esperança de uma luz que lhe brinde o favor da poluição. É tudo, tudo, muito natural. A paloma cagando na cabeça da princesa esculpida em solidão. É como aquela antiga mão do índio que eu vi tremendo na perfuratriz num sovacão da mina boliviana. É como a história natural das águas que fazem dos rebojos o mau fim dos homens que perseguem seringueiras, destino duro do meu tio Joaquim. É tudo natural na Venezuela: o povo come ardências de óleo sujo enquanto as autopistas te deslumbram e forjas teorias on the rocks. A solidariedade se transforma em favor,