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É bom para o moral!


Tentei resistir em escrever esse post mas analisando melhor, conclui que foi uma grande experiencia na minha vida e vale a pena ser compartilhada. A situação aconteceu no ultimo dia 09 de Agosto com uma visita ao Completo Penitenciário Anísio Jobim, o famoso Compaj. Acordei antes das 6h para conseguir me arrumar a tempo de pegar o bonde que iria com meu amigo MC Fino e seus companheiros de grupo, Mensagem Positiva.
O grupo ia se apresentar, pregar a palavra de Deus e fazer umas brincadeiras “free style” com palavras e expressões escolhidas pelos detentos. A situação foi formada por conta da “Semana do Presidiário” e essa era uma das atividades culturais promovidas por um professor de Educação Física que cuida da programação esportiva de vários presídios.
A expectativa sobre o sucesso da visita exaltava nas atitudes de cada, eu, ia apenas registrar o momento, mas logo na entrada fomos impedidos de entrar com câmera e até o notebook que ia ter as bases foi impossibilitado de entrar. Pressão hein?
Pressão mesmo eu senti na hora da revista, oras eu já tinha ido ao Compaj, acho que foi em 2006, levei os filmes do festival Um Amazonas pra rapaziada votar e a experiência tinha sido muito tranquila. Alguns anos depois, o clima tava pesado e sem que eu pensasse ‘no que estava acontecendo’, eu ouvi um “!” e segundos depois tinham aproximadamente umas 17 mulheres tirando a roupa e se abaixando várias vezes.
Ainda sem entender direito, eu toda enrolada, também tive que tirar a roupa. “OH SHHHIIIT!”. Tava de meia, tênis, calça jeans.. levei quase 2 minutos pra tirar toda a roupa e por de volta. Mas nem morri, mas confesso que fiquei tonta com aquele cheiro de “prikito” que exalou imediatamente.
Passado o susto, as apreensões de equipamentos, estávamos prontos para entrar no primeiro pavilhão que foi o de numero 3. Os caras tavam se preparando pro campeonato de futebol e dominó que tava rolando valendo uma caixa com 50 picolés da massa. UI! De primeira, o grupo deu um show, a emoção foi grande e sensibilizou a maioria dos companheiros de cela.
Ali eu vi que não é exagero a expressão que diz “instrumento de Deus”, e aqueles caboclos eram sim, excelentes ferramentas. Na hora do “free style”, a matemática era a seguinte, a pessoa falava uma palavra e o Fino rimava em cima, de acordo com alguma definição positiva. “Liberdade” foi a primeira palavra citada por todos os pavilhões, em seguida, palavras como “Justiça”, “Família” e “Paz” também foi muito repetidas.  
Cheguei a trocar ideia com vários deles, claro que não falei direito quem eu era justamente para que eles não se assustassem com a minha “função” ali. Aprendi várias expressões e termos usados para ele, assim como os filhos, mães e esposas que também estavam ali, afinal de contas, o dia também simbolizava uma visita e entrega de alimentos, eu me senti a vontade, como se estivesse algum parente, mesmo conhecendo alguns deles pelas matérias dos jornais.
Diante de todas as rebeliões, fugas e terrorismo que tem rolado nas cadeias, eu não consegui ver como um lugar hostil, nem mesmo após a fita que aconteceu no final da apresentação dos meninos...
Cada pavilhão tem a sua cara, um tem mais esportistas outros tem mais artesãos, naquele mesmo esquema ‘Carandiru’, uns trabalhando, outros só fumando e outros com o movimento quente. Enquanto circulava lá, só acompanhava a quantidade de comida que chegava. Não tem miséria na cadeia! Era pacotes de pets com seis barés adoidado, salsicha pacaralho, carne, miojo... muita coisa!
Se eu estava a vontade ali naquele ambiente mesmo cheio de grades, imagina as crianças? Vi filhos de detento se trepando nas grades que nem o homem aranha. Consigo imaginar até a rotina de “visitar o papai na cadeia”, cheguei a ver até “pai e filho” detento. Por isso que volta né? Vai vendo...
A aceitação dos caras com as musicas de rap gospel dos meninos era muito grande mas melhorou ainda mais quando foram para a mesma língua e o “Vida Loka” entrou em cena. Seja velho, novo, pai, filho, doidão, desdentado e até os evangélicos, TODO MUNDO sabe as letras dos Racionais MCS decorado. A rua é noix? Hauhauahau
Os caras representaram, sabem ouvir, sabem falar, são tímidos dentro das suas realidades, mas até quando um irmão toma uma atitude errada, desnecessária, ninguém condena. Os caras da igreja se ofenderam quando a língua da rua tomou o microfone, intolerância é triste? Mas às vezes é o único jeito que funciona no eixo, extremamente! Vai entender hein?
Lá me disseram que a cadeia não tem mais “xerife”, cada um tem o seu representante a se portar, mas não é bem o que a gente ver por ai em relação às facções, o ruim é que o governo fica que nem uma barata tonta sem saber pra onde ir e enquanto isso os caras ficam lotando as celas. A realidade é a mesma de todo o Brasil, em cela que cabe 7 tem 15.
Sem querer parecer filosofia de Tiririca, mas é notável ver que “quem tem, tem”, e quem não tem, já sabe... Uns carinhas com naipe do finado ‘Seu Flor’ da Grande Família, vestido como se estivesse em Aruba. Também vi a moçada com camisa do “Compensão do Compaj”, queria ser convidada para participar de um campeonato de futebol da cadeia. Consigo só imaginar como deve ser a emoção de cada partida, aposto que deve botar no chinelo os jogos que rolam lá no Clube do Sesi, hein?
Não quero mais me alongar, claro que tem coisas que só minha memória gravou, imagens e palavras que ouvi que só quem estava lá pôde sentir a energia que aquelas pessoas passam. Fique claro que eu acredito na recuperação das pessoas, eu acredito na igreja como fonte de salvação mas só a mente humana pode ser responsável pelo sucesso de alguém.
Muito grata a tudo! Um Salve pro meu irmão Marcio Cruz, vulgo DJ MC Fino que tá aniversariando hoje! Um anjo de Deus! Que amo e desejo todo sucesso do mundo! LUZ!


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